SOBRE A DOR
Enquanto o fagote avança no lúgubre primeiro movimento da Sinfonia 6 de Tchaikovsky, a melodia da dor vai se desenhando. A vida ainda se debate na valsa propositalmente desequilibrada do segundo movimento e na marcha do terceiro. Vida à procura de sentido, de equilíbrio. A vida na dor finalmente cede à morte no quarto movimento e vai se esvaindo até o silêncio. Picasso brinca com o rosto humano e o descobre torto, desconexo. Então pinta “Guernica”, o quadro da dor da guerra, no qual homens e animais, aos pedaços, se debatem no lençol negro da incompreensão. O sol é uma lâmpada sem força. Não há outra expressão além da dor soberana, e as gentes que se entregam à morte. A dor transforma o homem; porém, ainda bela, nos comove e vai comover as gerações que virão. Na intensa prova do Ironman em Kona, os corpos perfeitos das primeiras horas da chegada dão lugar à beleza da resistência. Os triatletas renomados chegam oito horas depois do início. Porém, não são eles os heróis. Até à meia