O QUE DIZ SÃO LUCAS SOBRE MARIA ?


Nos dois artigos anteriores, temos vindo a referir as diferentes atitudes que podem ser encontradas no Novo Testamento, no que respeita a Maria. Deste modo, enquanto nas Cartas de S. Paulo ela é ignorada, em Marcos surge-nos desfavorecida e em Mateus já é considerada e resgatada a sua visão. Contudo, é com Lucas que a figura de Maria alcança uma envergadura extraordinária. Com ele, o Novo Testamento interessa-se, pela primeira vez, pela pessoa de Maria, pelas suas reacções e por aquilo que lhe sucede. Já não é uma figura passiva, mas interroga, responde, dialoga, consente, corre, canta, mostra estranheza, maravilha-se, sofre. Aparece, sobretudo, como modelo de vida crente e de mulher atenta à Palavra de Deus.

Note-se que, nos dois capítulos dedicados à infância de Jesus, Maria é a personagem central e de destaque, em torno da qual girarão todos os outros acontecimentos. Em primeiro lugar, é a Maria, e não a José, que o anjo Gabriel anuncia a gravidez milagrosa (Lc 1, 26-38); é Maria que fica de pôr o nome a Jesus (1,31); contrariamente a Mateus, em cujo Evangelho Maria nunca fala, em Lucas, Maria não só fala, como também apresenta objecções ao próprio anjo (1,34); Maria recebe o nome de "cheia de graça" (1,28), título único em todo o Novo Testamento. Deste modo, Lucas coloca a Virgem num plano excepcional entre todas as criaturas humanas: Deus tem necessidade de Maria e não fará nada sem o seu consentimento.

Mas Lucas não se fica por aqui e mais elogios vai fazer a Maria: é exaltada quando vai visitar a sua parente Isabel (1,42-48); quando Jesus nasce, Lucas faz notar que Maria O enfaixou sozinha e O colocou numa manjedoura (2,6-7), quer dizer, foi a única a actuar no mistério do parto; Maria aparece "conservando todas aquelas coisas no seu coração" (2,19,51).

E o que acontece às duas cenas negativas apresentadas por Marcos? Lucas também as narra, mas acrescenta novas modificações para exaltar ainda mais a figura de Maria. A primeira, em que Jesus demarcava a sua distância em relação à sua família, é convertida por Lucas num verdadeiro elogio de Maria (8,19-21). Repare-se, por exemplo, que Lucas retira a questão sobre quem são a mãe e os irmãos, o que deixava entrever uma certa oposição relativamente a estes, além de suprimir o gesto de Jesus de estender a mão para os discípulos, que marcava um contraste entre a sua família carnal e os seus seguidores. Na segunda cena, em que Jesus é rejeitado em Nazaré, Lucas escreve que "nenhum profeta é bem recebido na sua terra" (4,24), introduzindo duas novas alterações relativamente a Marcos: suprimiu "a casa" e mudou o verbo "desprezar", evitando assim que fosse levantada qualquer suspeita contra Maria ou contra os parentes de Jesus. Para concluir, resta referir que a estes dois episódios de Marcos, Lucas juntou outros dois: na genealogia (3,23) faz uma alusão à concepção virginal, que já tinha assumido plenamente no seu Evangelho; e, em Lucas 11,27, o evangelista pretende exaltar Maria pela sua fidelidade à Palavra de Deus.

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