NINGUEM PODE JULGAR
Com fogos de artifício, buzinas e muitos gritos de populares, encerrou-se o julgamento do casal Nardoni, na madrugada de 27 de março. Parecia um final de campeonato, uma festa qualquer. Condenados pela morte da menina Isabella, os réus saíram do tribunal do júri sob forte escolta policial e foram transportados diretamente para os presídios onde cumprirão suas penas. A população, bombardeada intensivamente pela mídia, durante os cinco dias desse longo julgamento, já não se continha na expectativa da sentença. Se houvesse a absolvição, com certeza, tomariam de assalto aquele Palácio de Justiça.
Aqui do meu cantinho, fiquei apenas a analisar essa sede de justiça popular, capaz de contagiar uma nação inteira focada exclusivamente num único fato. Outros mais, simultaneamente e em várias instâncias da vida, se submetiam aos julgamentos humanos, sem despertarem tamanho interesse. Seria a atrocidade do crime, a idade da vítima, as ligações familiares ou sede de vingança pura e simples? O que leva um povo a se aglomerar ao redor de um tribunal com “pedras e paus, unhas e dentes” e tão grande interesse pelos mínimos detalhes de um processo?
A justiça humana se fez, apesar da não confissão dos incriminados. Resta ainda a Justiça Divina. Sem desqualificar a lisura desse julgamento – pois não estou aqui pra isto – vejo nos fatos uma oportunidade para reflexão e ponderação mais serena. Nem sempre julgamos com justiça. Na verdade, quase sempre cometemos falsos julgamentos. Nossas leis e sentenças são frias e tacanhas diante das Leis que regem os mandamentos cristãos. Por isso a frase contraditória do título acima não é de autoria nossa, mas de Cristo, que textualmente nos ensina: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7,1). Como? Deixaremos então o mundo à bancarrota, ao Deus dará ou sob as ordens do Demônio? Claro que Jesus não subverte a ordem, nem as normas mínimas de uma boa convivência humana. O julgamento de que Ele nos fala é aquele sem um mínimo de compaixão ou intercessão nossa para que os condenados na vida social encontrem ao menos o perdão e a paz na submissão às suas penas. Nesse sentido, só Deus pode julgar.
A sentença está dada. O pior dos julgamentos é aquele que excede a dureza da condenação obtida, que não se compraz com a humilhação pública a que todo réu se submete, não oferece sequer um bálsamo de intercessão à piedade divina, não perdoa, quer mais, acha pouco... Todo crime merece castigo. Mas todo criminoso merece perdão. Lembre-se: Deus ama o pecador, não o pecado. Nessa lógica, por mais difícil que nos pareça, a atitude do perdão cabe em qualquer lugar, pois é essa a mais preciosa das ações cristãs, mesmo quando vítimas da mais torpe humilhação.
É preciso ter presentes a maior injustiça dos tribunais humanos: a paixão e morte de Cristo. Nenhuma prova que o incriminasse, nenhum fato, nem mesmo uma razão evidentemente política, nada, nada justificava aquela vil sentença. Não bastasse, o processo escancarou-se à sanha dos populares e à fúria de seus algozes insanos, a ponto de submetê-lo às mais vis humilhações, desde cusparadas, tapas, zombarias e despojamento das vestes, até a mais tétrica das sentenças, a morte de cruz. Mesmo assim não condenou. Mesmo assim, perdoou. “Pai, eles não sabem o que fazem!” Pouco antes, preparando-se para cumprir a sentença do mundo, deixou-nos o maior dos mandamentos: “Amai-vos uns aos outros” E acrescentou: “Como eu vos amei”. Sobre essas bases, sem mais delongas, sem pompas, mas justamente, o mundo será julgado. Então, todos nós, vítimas ou réus, sentenciados neste vale de lágrimas, teremos a oportunidade individual, pessoal, de experimentar o Amor do Pai, sua misericórdia. Até mesmo aqueles que a justiça dos homens sentencia. Rezemos por eles! Como Jesus o fez, do alto de sua cruz: “Pai, perdoai-lhes”...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
Última Alteração: 12:20:00
Fonte: Wagner Pedro Menezes
Local:Assis (SP)
Comentários