NINGUEM PODE JULGAR

Aqui do meu cantinho, fiquei apenas a analisar essa sede de justiça popular, capaz de contagiar uma nação inteira focada exclusivamente num único fato. Outros mais, simultaneamente e em várias instâncias da vida, se submetiam aos julgamentos humanos, sem despertarem tamanho interesse. Seria a atrocidade do crime, a idade da vítima, as ligações familiares ou sede de vingança pura e simples? O que leva um povo a se aglomerar ao redor de um tribunal com “pedras e paus, unhas e dentes” e tão grande interesse pelos mínimos detalhes de um processo?
A justiça humana se fez, apesar da não confissão dos incriminados. Resta ainda a Justiça Divina. Sem desqualificar a lisura desse julgamento – pois não estou aqui pra isto – vejo nos fatos uma oportunidade para reflexão e ponderação mais serena. Nem sempre julgamos com justiça. Na verdade, quase sempre cometemos falsos julgamentos. Nossas leis e sentenças são frias e tacanhas diante das Leis que regem os mandamentos cristãos. Por isso a frase contraditória do título acima não é de autoria nossa, mas de Cristo, que textualmente nos ensina: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mt 7,1). Como? Deixaremos então o mundo à bancarrota, ao Deus dará ou sob as ordens do Demônio? Claro que Jesus não subverte a ordem, nem as normas mínimas de uma boa convivência humana. O julgamento de que Ele nos fala é aquele sem um mínimo de compaixão ou intercessão nossa para que os condenados na vida social encontrem ao menos o perdão e a paz na submissão às suas penas. Nesse sentido, só Deus pode julgar.
A sentença está dada. O pior dos julgamentos é aquele que excede a dureza da condenação obtida, que não se compraz com a humilhação pública a que todo réu se submete, não oferece sequer um bálsamo de intercessão à piedade divina, não perdoa, quer mais, acha pouco... Todo crime merece castigo. Mas todo criminoso merece perdão. Lembre-se: Deus ama o pecador, não o pecado. Nessa lógica, por mais difícil que nos pareça, a atitude do perdão cabe em qualquer lugar, pois é essa a mais preciosa das ações cristãs, mesmo quando vítimas da mais torpe humilhação.
É preciso ter presentes a maior injustiça dos tribunais humanos: a paixão e morte de Cristo. Nenhuma prova que o incriminasse, nenhum fato, nem mesmo uma razão evidentemente política, nada, nada justificava aquela vil sentença. Não bastasse, o processo escancarou-se à sanha dos populares e à fúria de seus algozes insanos, a ponto de submetê-lo às mais vis humilhações, desde cusparadas, tapas, zombarias e despojamento das vestes, até a mais tétrica das sentenças, a morte de cruz. Mesmo assim não condenou. Mesmo assim, perdoou. “Pai, eles não sabem o que fazem!” Pouco antes, preparando-se para cumprir a sentença do mundo, deixou-nos o maior dos mandamentos: “Amai-vos uns aos outros” E acrescentou: “Como eu vos amei”. Sobre essas bases, sem mais delongas, sem pompas, mas justamente, o mundo será julgado. Então, todos nós, vítimas ou réus, sentenciados neste vale de lágrimas, teremos a oportunidade individual, pessoal, de experimentar o Amor do Pai, sua misericórdia. Até mesmo aqueles que a justiça dos homens sentencia. Rezemos por eles! Como Jesus o fez, do alto de sua cruz: “Pai, perdoai-lhes”...
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br
Última Alteração: 12:20:00
Fonte: Wagner Pedro Menezes
Local:Assis (SP)
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