NOSSA SENHORA DO BONSUCESSO


Madre Mariana de Jesus Torres, uma das fundadoras do Mosteiro Real da Imaculada Conceição de Quito, foi uma grande mística. Foi a ela que Nossa Senhora apareceu ordenando que mandasse esculpir uma imagem sob a invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso.

Nascida na Espanha, na Província de Viscaya, no ano do Senhor de 1563, Mariana bem cedo sentiu a vocação religiosa. Aos 13 anos de idade, com permisão do Rei Filipe II, abandonou seu país, juntamente com sua tia, Madre Maria de Jesus Talvada, e partiu para Quito, cidade situada em terras de colonização espanhola na América do Sul, a fim de ali estabelecer o primeiro mosteiro nas Américas em honra da Imaculada Conceição.

Aparições de Nossa Senhora do Bom Sucesso

A esta alma -- esculpida por longos anos de penitências, orações e sacrifícios -- Nossa Senhora apareceu diversas vezes sob a invocação do Bom Sucesso.

O Mosteiro da Imaculada Conceição sempre estivera sob a assistência religiosa dos Frades Franciscanos. No entanto, algumas freiras relapsas quanto à Regra não aceitando a influência franciscana, urdiram uma conspiração e conseguiram de Roma que o Convento ficasse sob a tutela do Bispo local.

Vendo o abandono em que ficaram as religiosas fiéis e o risco de extinção do Mosteiro, Nossa Senhora apareceu à Madre Mariana de Jesus Torres:

"É vontade de meu Filho Santíssimo que tu mesma mandes executar uma estátua minha, tal como me vês e a coloques sobre a cátedra da Priora. Colocareis em minha mão direita o báculo e as chaves da clausura, em sinal de minha propriedade e autoridade. Colocarás em minha mão esquerda o meu Divino Filho. Eu mesma governarei este meu Convento".

Mariana hesitou. Como dar cabo àquela tão difícil tarefa? Em primeiro lugar, como conseguir a autorização do Bispo? Depois, como conseguir os recursos, e qual escultor seria capaz de esculpir a imagem?

- Senhora, insistiu a religiosa - como realizar tudo isto se nem mesmo sei qual a sua estatura exata?

- Dê-me o cordão franciscano que trazes na cintura - disse-lhe a Virgem.

Neste momento os três Arcanjos, São Miguel, São Rafael e São Gabriel, que A assistiam, fizeram uma profunda reverência diante de Nossa Senhora e com enorme respeito ergueram a coroa. Ela, então, tomou o cordão e colocou uma das extremidades sobre sua cabeça e ordenou que Madre Mariana tocasse com a outra nos seus pés. Ora, como o cordão era muito curto, houve um milagre e ele esticou-se até alcançar a altura exata da Virgem.

"Aqui tens minha filha, a medida de tua Mãe do Céu, entrega-a a meu servo Francisco del Castillo, explicando-lhe minhas feições e minha postura: ele trabalhará exteriormente minha imagem porque tem consciência delicada e observa escrupulosamente os mandamentos de Deus e da Igreja. Nenhum outro será digno desta graça. Tu, de tua parte, ajuda-o com tuas orações e com teu humilde sofrimento".

Cheia de encanto a Madre tomou aquela preciosíssima relíquia e durante toda a vida a levou consigo.

Nossa Senhora prevê o futuro do Equador e a morte do Bispo

- "Minha Filha muito amada, porque és lenta e pesada de coração? Quantos crimes ocultos se cometem nesta população e nas vizinhas! Precisamente por esse motivo se fundou o Convento neste local, a fim de que Deus fosse desagravado no mesmo lugar em que Ele é ofendido e desconhecido; e por essa razão o demônio, inimigo de Deus e dos justos, tanto agora como nos séculos futuros porá em jogo toda a sua maliciosa astúcia para acabar com este Convento.

Em seguida, Nossa Senhora revelou a Madre Mariana de Jesus que aquela Colônia tornar-se-ia independente sob o nome de Equador. Profetizou também que, "no século XIX, virá um presidente verdadeiramente cristão, varão de caráter a quem Deus Nosso Senhor dará a palma do martírio na praça onde está este meu Convento. Ele consagrará esta Pátria ao Divino Coração de Meu Filho Santíssimo, e esta consagração sustentará a Religião Católica nos anos posteriores, os quais serão terríveis para a Igreja".

"Hoje mesmo, quando amanhecer, irás ter com o Bispo e lhe dirás que eu mandei esculpir minha Imagem para ser colocada à testa de minha Comunidade, a fim de tomar posse completa daquilo que, a tantos títulos, me pertence. E, como prova da veracidade do que lhe dirás, morrerá ele dentro de dois anos e dois meses, devendo desde já preparar-se para o dia da eternidade, porque a sua morte será violenta".

"Ele deverá consagrar minha Imagem com os Santos óleos, e pôr-lhe-á o nome de Maria do Bom Sucesso da Purificação ou Candelária. Nessa ocasião solene, ele mesmo colocará na mão direita de minha Imagem, junto com o báculo, as chaves desta clausura, como prova de que entrega a Mim o governo das esposas de meu Filho Santíssimo, transferindo todos os seus cuidados para minha maternal e amorosa proteção.

"Então, nesse momento, Eu tomarei posse completa desta minha casa, e obrigar-Me-ei a guardá-la ilesa e livre de todo atropelo até o fim dos tempos, exigindo de minhas filhas contínuo espírito de caridade e sacrifício".

Como se realizou o desejo de Nossa Senhora

Depois de muito hesitar, Madre Mariana acabou falando com Dom Salvador Ribera. O Bispo imediatamente concordou:

-"Madre, por que Vossa Reverência não me chamou antes? É Deus quem assim dispõe e não devemos ficar surdos à sua voz e aos seus apelos. Ele é livre para pedir às suas criaturas o que lhe aprouver".

Desta maneira foram feitas as chaves de prata. O Cabido encarregou-se da coroa de ouro e o báculo a cargo da Marquesa Maria de Iolanda, parente do Rei de Espanha.

Quando a marquesa soube que lhe era pedido oferecer o báculo de Nossa Senhora, respondeu agradecida:

"Madre, teria ficado muito ressentida se Vossa Reverência não me tivesse avisado primeiro. Agradeço a sua atenção e carinho e digo que não consentirei em absoluto que ninguém mais contribua para o báculo da Imagem de minha celeste Mãe e Senhora. Fornecerei todo o material e a mão de obra. Tenho o suficiente para isto e ainda que não o tivesse, venderia meus haveres para consegui-lo. Peço me indique como quer que se faça e nada mais. Eu me encarregarei de todo o resto".

Francisco del Castillo, por sua vez, disse que se sentia indigno de ser o escultor de tão insigne imagem, mas que o faria da melhor maneira possível. Perguntado em quanto sairia o trabalho, respondeu que não cobraria nada e que se dava por muito bem pago por ter sido escolhido para tão sublime missão.

Confessou-se, comungou e no dia 15 de setembro de 1.610 iniciou a tão esperada obra. Trabalhou longos dias a fio, sempre sob a orientação de Madre Mariana de Jesus Torres. Quando faltavam apenas alguns retoques finais, viu-se que a imagem, ainda que satisfatória, nem de longe representava o que a Madre havia presenciado. Francisco então saiu em viagem à procura de tintas para concluir o trabalho.

Como a Madre Mariana descreve o milagre

"Na oração da Comunidade da tarde do dia 15, Deus preveniu-me que, na madrugada do dia 16, eu presenciaria suas misericórdias em favor de nosso Convento e do povo em geral. Pediu que me preparasse para receber essas graças com penitência e orações noturnas.

Assim o fiz. Os Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael dirigiram-se para o trono da Rainha dos Céus.

São Miguel, saudando-A submisso, disse:

- "Maria Santíssima, Filha de Deus Pai".

E São Gabriel acrescentou:

- "Maria Santíssima, Mãe de Deus Filho".

E São Rafael concluiu:

- "Maria Santíssima, Esposa Puríssima do Espírito Santo".

"Em seguida chamaram a milícia celeste e cantaram todos juntos: Maria Santíssima, Templo Sacrário da Santíssima Trindade".

"Nisto apareceu S. Francisco de Assis, acompanhado pelos três Arcanjos e seguidos da milícia celeste. Aproximaram-se então da Imagem semiconcluída e, num instante, a refizeram.

"Entrementes, a Imagem estava totalmente iluminada como se estivesse no meio do sol. A Santíssima Trindade olhava comprazida e os anjos cantavam o "Salve Sancta Parens".

"A Rainha dos Anjos, no meio de todas essas alegrias, aproximou-se da Imagem e nela penetrou, à maneira de raios do sol que incidem em formosos cristais. Naquele momento a Imagem ficou resplandescente, como se adquirisse vida e cantou com celeste harmonia o "Magnificat"! Isto aconteceu às três horas da manhã".

"Essa obra não é minha"

No dia seguinte, como era esperado, Francisco, o escultor, chegou de viagem com as tintas. Quando viu a imagem assim concluída caiu de joelhos e exclamou:

"Madres, que vejo? Esta primorosa Imagem não é obra minha! Não sei o que sente o meu coração: mas é obra angélica, pois um trabalho desse gênero não se pode produzir na terra com mão de frágil barro. Oh não! Escultor algum, por hábil que seja, poderá jamais imitar sequer tanta perfeição e tão maravilhosa beleza".

Levantando-se em seguida, pediu papel e tinta para lavrar um documento, jurando que aquela bendita Imagem não fora obra sua, mas de anjos, porque a encontrara acabada de outra maneira, que não aquela deixada no coro superior do Mosteiro da Imaculada Conceição, seis dias antes.

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