A SALVAÇÃO AO NOSSO ALCANCE
“Eu vim para que tenham vida
e a tenham em abundância”
(Jo 10,10).
Durante uma caminhada ao parque deparei-me com um pequeno passarinho, que estava bem machucado.
Notei que uma de suas asas encontrava-se visivelmente danificada, impedindo-o de alçar vôos maiores. Isso fazia com que aquele frágil animalzinho não conseguisse se alimentar, pois os pássaros sadios eram muito mais ágeis e qualquer competição por comida tornava-se sempre desfavorável ao pequeno e debilitado passarinho.
Evitei, então, o triste fim que aquele bichinho desamparado teria, decidindo por trazê-lo às minhas mãos, com as quais formei cuidadosamente uma espécie de “concha” para acolher aquela pobre ave, que já se achava bem debilitada.
Logo percebi que se eu apertasse demais uma mão contra a outra, aquele bichinho seria esmagado e morreria. Por outro lado, se eu abrisse muito espaço ele cairia e também pereceria. O ambiente ideal para uma adequada recuperação era, portanto, uma concha feita com as mãos nem muito apertadas e nem muito frouxas.
Notei também que por mais cuidado que eu pudesse ter na formação da “concha”, sobravam diversos vãos por entre os dedos, através dos quais o animalzinho poderia facilmente escapar, se assim o desejasse. E fiquei pensando sobre que atitude eu deveria tomar se ele insistisse na sua passagem por algum daqueles vãos.
Dias depois, aquela avezinha estava plenamente recuperada. Eu a ajudei para que desse início a seu vôo magistral, que de fato foi magnífico! O curioso, entretanto, é que poucos minutos depois ela estava de volta, tendo pousado no batente de minha janela.
Durante mais de um mês aquela cena se repetiu, por várias vezes. Eu acordava com seu canto sublime, e depois eram vôos espetaculares, sempre complementados com seus longos intervalos de descanso à beira de minha janela.
Passei então a entender que aquilo era muito mais do que a sua busca por mais proteção. Também era algo superior a um puro agradecimento por eu lhe ter salvado a vida.
E, meditando mais sobre tudo aquilo, cheguei finalmente à conclusão de que algo bastante semelhante ocorre com respeito ao relacionamento, de cada um de nós, com Deus. Como nosso Pai benfeitor, Suas mãos santas nos acolhem com suavidade, como uma concha que não é totalmente solta e nem muito apertada, provendo-nos desta forma com uma proteção que nos é oferecida na medida exata, e com o espaço suficiente para que possamos nos curar e crescer.
E neste cenário, o que nos consola total e plenamente é termos a certeza de que, se nos arrependermos de nosso voluntário afastamento de Deus, Suas Mãos Santas estarão sempre disponíveis para nos acolher com infinita ternura e bondade, oferecendo-nos a proteção na medida exata das nossas necessidades e nos proporcionando o espaço no tamanho certo, para que Nele possamos crescer, e através Dele, nos salvar.
Através daquele passarinho pude compreender a enorme bondade de nosso Pai Celeste, que por nos amar infinitamente respeita todas as nossas decisões, mas ao mesmo tempo, se decidirmos retornar às Suas Mãos, Ele está sempre pronto a aceitar nosso arrependimento e totalmente presente para nos acolher e abrigar.
“Quem permanecer em mim e eu nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”
(Jo 15,5).
Comentários