A SECULAR HOMENAGEM A MARIA

Inclinaram sempre diante da Mãe de Jesus as artes, os maiores teólogos, todo o povo cristão através dos tempos e, assim se realiza a profecia de Maria: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. De fato, como muito bem se expressou Alves Mendes, para Ela se convergem os espíritos em uma só idéia, nela se afincam os corações em um só afeto, por ela se aliançam os crentes num só voto, num só culto. “E este levantar de mãos, este dobrar de joelhos, este curvar de frontes, este expandir de vidas, tão harmônico, tão ajustado como a alma e o corpo; este ressoar das mesmas vozes e dos mesmos conceitos, este tempestear das mesmas preces e relampaguear das mesmas vistas” que a sonham, que a pressentem, que a procuram “como o magnete o polo, a mariposa a flama, a ave o ninho, o rio o mar, o satélite o planeta e o planeta o Sol, tudo isto, todo este quadro que nenhum pincel pode colorir, toda esta festa que nenhuma partitura pode cantar, todo este assunto que nenhum discurso pode abranger, é o refinamento do êxtase, o requinte do sublime, o antegosto da bem-aventurança eterna”. Paulo VI na Encíclica Christi Matri Rosari,chamou os tempos atuais de época marial Observe-se que a historiografia mariana hodierna insiste com grande pertinência na figura de Maria como modelo de vida, de fé encarnada no cotidiano, de resposta fiel, radical à mensagem salvífica de seu Filho, de combate viril à mentalidade egoísta, de aceitação total da envolvente novidade cristã, da cooperação fraterna, de posturas firmes, decididas, destemidas como as que ela mostrou nos eventos dolorosos de seu percurso neste vale de lágrimas. O culto esclarecido a Maria neste início de milênio, com toda uma herança teológica secular, exige, na verdade, muito de seu devoto. Num mundo secularizado, materializado, mergulhado no endeusamento da ciência e da técnica e que olvida a essência metafísica de seu destino supremo, a ação dos seguidores da Mãe de Jesus se torna ainda mais importante. Num contexto no qual, para desventura dor ser racional, campeia a angústia existencial, o medo, um mórbido pessimismo e a trágica agressão à vida, aquele que ama verdadeiramente esta Rainha deve ser uma testemunha viva do divino Ressuscitado, do Filho desta Madona que venceu a morte e oferece a quantos O aceitam, uma vida eterna feliz. Só pode, entretanto, gerar a presença de Cristo, num mundo tão conflitivo, quem estiver em íntima união com esta Mãe celeste. Ela sempre a mostrar que ser Jesus é viver em plenitude as verdades reveladas, tão bem por ela vivenciadas. Como observa Garcia Paredes, Maria chegou à plenitude do seu ser humano “porque cumpriu a vontade de Deus e se converteu na grande Servidora do Reino”. É a isto que ela chama os que sinceramente a amam. Trata-se também de uma volta às origens. Ela a Virgem orante, como a viam os primeiros cristãos. Como é confortador verificar que o autêntico movimento carismático católico focaliza Maria como espelho de uma existência em contínua união com Deus e como exemplo de instantes de prece nos quais cumpre mais escutar, numa atitude de doação, do que estar a querer enquadrar Deus em estreitos moldes humanos. É mister, de fato, abrir espaços para que o Ser Supremo ocupe todos os instantes da vida, sendo inefável presença na faina do cotidiano de cada um. Aliás, Nossa Senhora “como árvore frutífera”, aprofundava suas raízes nos cursos de água do Espírito e da Palavra de Deus, absorvendo-lhe a linfa vital”. Desde o final do século XX se constata, além disto, uma redescoberta e uma revitalização do Rosário. Houve contestadores que procuraram agredir durante certo tempo o terço de Nossa Senhora, esta prece poderosa que faz tremer os espíritos infernais. Muitos se penitenciaram por terem assim agido e abandonado uma forma tão simples para se alçar vôo ao mundo sobrenatural. Como confessa um autor de belo livro sobre esta prece, “depois de voltar a rezar o terço”, ele resolveu divulgá-lo ainda mais, pois este exercício de piedade “introduz o orante em pleno átrio dos acontecimentos bíblicos fundamentais”. É uma prece completa por ser a um tempo oração vocal e de profunda meditação dos mistérios da Redenção humana. * Professor no Seminário de Mariana - MG

Última Alteração: 10:02:00
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Local:Mariana (MG)