ENTREGUE AOS LEÕES
Embora tardiamente, quero levar os caros amigos a umas poucas considerações, a respeito do enorme contencioso criado pelas excomunhões de Recife. Na minha vida de católico, e de bispo, jamais vi tamanha condenação da opinião pública, contra a nossa Santa Igreja. Nunca vi tanta gente vir a público e, falar com ódio em ebulição, contra o gesto “medieval” do arcebispo Dom José Cardoso. Reflitamos um pouco.
1 – Pode a Igreja pronunciar uma excomunhão (proibição de participar da vida comunitária da Igreja), contra um fiel? Esse gesto é bíblico, portanto perpétuo. São Paulo, a respeito do devasso de Corinto, que abusava sexualmente da 2ª mulher de seu pai, diz: “Entreguei esse homem a Satanás, para que seu espírito seja salvo” (1 Cor 5,5). Também os primeiros cristãos não permitiam que um fiel, optasse por categorias profissionais, tidas inconciliáveis com a vida cristã. Hoje as excomunhões são raras (sete), restringindo-se aos casos previstos no Direito Canônico.
2 – Uma excomunhão atinge os que não são católicos? De forma alguma. A Igreja só pode excluir da vida comunitária aqueles que fazem parte de seus quadros. Também essa pena só atinge os católicos que tem conhecimento da lei. No direito civil existe a presunção do conhecimento da lei. É inútil alegar ignorância. No direito da Igreja, porém, para haver punição, o fiel deve ser conhecedor efetivo da lei.
3 – Por que a Igreja fica sozinha na luta contra o aborto? Porque a maioria das pessoas não tem força para enfrentar os abortistas, cheios de dinheiro, e de capacidade de pressão. Até algumas igrejas cristãs, sabidamente contra o aborto, nada falam, para não enfrentar a opinião pública. Não é fácil manter uma convicção, quando ela traz prejuízos.
4 – Pode um Bispo, de própria iniciativa, excomungar alguém? Ninguém pode, menos o Papa. A Igreja só pode agir, dentro dos cânones da lei. É muito curioso que, perante a opinião pública, um Bispo que é considerado de esquerda, pode excomungar. Há vinte anos atrás, um Bispo do Mato Grosso, considerado esquerdizante, excomungou publicamente um latifundiário. A reação midiática foi zero. Mas bastou um “conservador” aplicar uma lei, já existente, e a ira se tornou planetária. Descubra porquê.
5 – Por que no caso atual de Recife, houve tamanha celeuma na mídia? É que alguns políticos e jornalistas não conseguem se livrar do sofisma (destinado a ser perpétuo) da “laicidade” do Estado. A Igreja não apela para argumentos religiosos, e sim científicos, para defender a vida. Outros se escandalizaram, mesmo não católicos, porque “devem”. Isso é, estão envolvidos em prática abortiva.
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Última Alteração: 08:28:00
Fonte: Dom Aloísio Roque Oppermann, scj - Arcebispo de Uberaba, MG
Local:Uberaba (MG)
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