MULHER MODERNA.


Confesso que nesse último “Dia Internacional da Mulher” estava desanimada. Acho que não gosto muito do que vejo quando olho em derredor. As coisas mudaram demais, e não sei se mudaram para melhor. Sinto falta da mulher que eu poderia ter sido e que não sou por força das circunstâncias atuais, talvez, devido à modernidade. Numa de minhas últimas leituras, há referência a uma reflexão proposta por R. D. Laing, em The voices of experience, onde o autor analisa o nascimento de uma criança, observando que o parto foi virtualmente desfigurado pela obstetrícia tecnológica. Ele foi abolido como uma vivência pessoal direta. A mulher se transformou de “pessoa ativa” em “pessoa passiva”. De sujeito sensível, ela passou a ser encarada como um objeto anestesiado. Assim, uma programação cirúrgica se apossa do processo fisiológico. “Em lugar do parto, temos a extração cirúrgica de um bebê”.







Isso me fez lembrar algo ocorrido anos atrás, quando uma de minhas colegas de trabalho desligou o telefone do setor em prantos, porque o médico obstetra havia antecipado seu parto para o dia seguinte, uma vez que ele iria participar de um congresso e, provavelmente, poderia não estar presente no dia em que a criança resolvesse nascer. Isso me pareceu terrivelmente cruel, afinal, minha colega e seu bebê não estavam preparados para antecipar o parto cerca de uma semana, mas levando em conta as observações de Laing, considero que para o médico, talvez o parto significasse realmente apenas uma extração cirúrgica. Obviamente, também cabem neste argumento tantas diferentes cirurgias.







Outra coisa que venho notando é a identificação feminina com o masculino. As mulheres estão cultivando valores e percepções masculinas, numa tentativa de se apropriar desse universo, já que estão cumulativamente inseridas no contexto doméstico e trabalhista. A idéia talvez seja soterrar a sensibilidade, vez que ela tem sido pouco valorizada e até mesmo desprezada nos tempos modernos. Afetividade passa a ser sinal de fraqueza, e a mulher se envergonha de assumir seu caráter frágil e terno. Está cada vez mais comum entrarmos em contato com mulheres masculinizadas, que bebem, fumam, relacionam-se sexualmente com frequência e variedade de parceiros. Mulheres que recusam ser mães ou simplesmente não assumem o cuidado de seus filhos. Mulheres que trabalham à exaustão abandonando o lar (se casadas) ou mesmo os planos de uma vida familiar (se solteiras).







Estou sentindo falta da energia feminina. Identifico, com pesar, inúmeras características masculinas nas mulheres modernas. O mundo está ficando pesado, colérico, raivoso, competitivo. Os princípios masculinos da ordem, da eficiência e da perfeição parecem ter tomado conta das mulheres. Onde está a feminilidade, a doçura, a meiguice, a sensibilidade, a afeição? Nossas famílias estão se esfacelando. Nossas crenças tradicionais e profundas estão sendo trocadas por modismos superficiais. Grassam problemas de obesidade ou excessiva magreza. O câncer se alastra entre as mulheres, e muitas já perderam seus seios, assemelhando-se ainda mais aos homens que, por sua vez, estão ficando mais afeminados. É; constato que o feminino está fazendo uma falta enorme. Vamos refletir sobre as consequências da modernidade enquanto ainda existem mulheres para contar a história.






Última Alteração: 11:07:00

Fonte: Maria Regina Canhos Vicentin - psicóloga e escritora
Local:Jaú (SP)

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