LIVRES PARA SERVIR



A liberdade cristã é aberta para a comunidade. Não é individualista, mas solidária. Na assembléia nacional da Comunhão Anglicana, Sebastião Armando fez uma reflexão sobre a diaconia (serviço) como sendo a própria identidade da Igreja: “A ação de solidariedade tem como objetivo reconstruir as pessoas, na medida em que vai-lhes possibilitando experimentar o sentimento de filiação divina. Isto só efetiva, se na prática, no modo de fazer, desde o culto até a ação social, se afirma a dignidade das pessoas, sua liberdade e sua capacidade de participação coletiva”.

Na apologia pessoal que faz logo no começo da Carta aos Gálatas (1,11 – 2,21), é admirável o modo como Paulo descreve o verdadeiro surto de liberdade que irrompe em sua vida pela conversão.


O Evangelho entrou em sua vida pela própria revelação de Jesus Cristo, no momento em que se distinguia do judaísmo, isto é, no zelo pela tradições paternas (1,12.14). Não se sentiu na obrigação de dar satisfações em Jerusalém, mas começou logo sua atividade apostólica, indo avistar-se com Pedro e Tiago só três anos depois (1,16-18). Passaram-se 14 anos antes de voltar a Jerusalém para o Concílio. Na liberdade dos cristãos-gentios, em relação à Lei já consolidada, estava livre o campo para o seu ministério apostólico (2,1-9). Paulo estava livre “para servir aos pobres” (2,10) e, em nome dessa liberdade, censura publicamente a atitude dúbia de Pedro (2,11-14). De maneira incisiva, afirma a nova liberdade desencadeada pela Cruz de Cristo (2,15-21).


A partir de Esdras, que tanto se empenhou na restauração de Israel depois do cativeiro (458-428 a.C.) e, para isso, recorreu à Lei de Moisés, como o instrumento primordial, essa Lei se tornará uma espécie de camisa de força que tolhia a liberdade. A defesa da liberdade em relação à Lei está no centro do conflito entre os fariseus e Jesus, que “veio para servir” (Mc 10,45). E a Lei maior dessa liberdade para servir, Paulo a vê na Cruz de Cristo.


Para concluir essas considerações, valemo-nos do que escreveu Sebastião Armando: “na verdade o regime da Lei resulta na
hipocrisia pela qual se mascara a impossibilidade de cumprir suas exigências; ou no orgulho do qual se alimenta o sentimento de superioridade de quem se sobreestima em sua capacidade de cumprir a Lei e despreza a fraqueza dos demais; na cegueira que endurece o coração e cerra os olhos à complexidade da realidade humana em construção; no desespero sob a incapacidade de desprender-se do sentimento do próprio poder, pois, de fato, o desespero é uma forma camuflada de orgulho...

A Cruz desmascara o absurdo das pretensões humanas: nem a sabedoria, nem o regime da Lei é capaz de conduzir à felicidade. E Paulo o explicita mostrando a degrdação opressiva da idolatria e todo o peso igualmente opressivo do regime da Lei. E anuncia o paradoxo: a palavra que instrui, opera o discernimento e orienta a vida não é mais nem a sabedoria nem a Lei, mas a concreta caminhada de vida de um excluído pelo sistema e condenado à morte” (
Palavra da cruz X ideologia, p. 11).

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