A MÃE SOFREDORA JUNTO Á CRUZ
As
mães sempre presidiram a história da humanidade. Os monumentos
imperecíveis que marcam grandes povos são os erguidos nos corações dos
filhos pelo amor de mãe. Nas crônicas das gentes as mais gloriosas
cenas se assinalam pela presença desta figura celestial que assiste o
destino das civilizações e plasma aqueles que, um dia, decidem a sorte
de toda uma nação. Diante da eternidade, perante os homens, maior
responsabilidade não paira! Nas encruzilhadas da vida a influência
materna sempre rasgou horizontes, tracejou um caminhar para a
humanidade. A França conheceu, no século XVIII, páginas singulares de
sua História. Luta obstinada de novas forças sócio-econômicas contra o
regime dominante. Avulta-se uma figura controvertida que haveria de
agitar toda a Europa e influenciar no destino dos povos
latino-americanos. Surgira o célebre Napoleão Bonaparte. No auge de sua
trajetória ele afirmou solenemente: “Devo tudo que tenho feito à minha
mãe”! Ser mãe de Napoleão que responsabilidade! Tremenda a carga que
aquele homem famoso colocou sobre os ombros de Letícia Bonaparte. Nos
fastos da História, porém, entre todos os capítulos belos e ternos
escritos pela bondade do coração materno, desde o raiar do primeiro dia
do mundo, nenhum se repleta de maior dimensão e sublimidade do que foi
escrito no Calvário. Nenhuma mãe atingiu os páramos de tamanha
grandeza do que aquela que, junto à Cruz, entristecida, viu seu Filho
lenta e dolorosamente, morrendo na mais trágica e acerba das mortes. Na
verdade ali estava a mais amorável das mães e o mais amável dos filhos.
Todo imenso cataclismo que abalou o mundo, no maior fato da História,
está intimamente ligado a ela, mesmo porque as mães sempre presidiram a
história da humanidade. Desde então, as amarguras que esmagam os
corações maternos lhe pertencem, estão inseridas na sua dor, no seu
destino. Jacopone Todi retratou com rara precisão o que ocorria ali no
Gólgota: “Estava a mãe dolorosa/ Junto da Cruz lacrimosa, / Vendo o
Filho que pendia./ A sua alma agoniada / Se partia atravessada / No
gládio da profecia. / Oh! quão triste e quão aflita, / Estava a Virgem
bendita, / A Mãe do filho Unigênito. / Quanta angústia não sentia, /
Mãe piedosa, quando via / As penas do Filho seu / Quem não chora, vendo
isto, / Contemplando a mãe de Cristo / Num suplício tão enorme". Na
terra nada mais confrangedor: cena insuperável de amor, quadro supremo
da dor. Instante solene na vida do homem de todos os tempos.
Inimaginável realidade só acreditável porque aí está viva, palpitante.
Esmagada pela dor, lábios entreabertos na suprema aflição, palidez
transparente de cera, coração traspassado de pesar, exauridas as forças
por todas as perspectivas funestas, pelo encontro fatal na Rua da
Amargura, pela caminhada na estrada da morte, ei-la, mansão do
sofrimento, petrificada pela angústia junto à árvore da dor. Mais
valente que a filha de Aías que enxotava os corvos e animais selvagens
de junto de seus filhos exânimes (2 Samuel 21,8 ss), Maria, embora
assolada por aflição inenarrável, não afugentava os inimigos de junto
do corpo de seu Jesus, suspenso no patíbulo. É que eles seriam seus
filhos também, verdade que Cristo proclamaria ali no Gólgota . Mais
serena que Davi que tremeu, chorou e lamentou entre soluços a morte de
Absalão, seu filho que pendia suspenso nos ramos de uma árvore (2
Samuel 19), Maria, resignadamente, contemplou Jesus pregado na árvore
salvadora. Mais resistente que Jacó que rasgou as suas vestes quando
lhe levaram a túnica ensopada, assim disseram a ele, no sangue de seu
mais dileto filho (Gên 37,34), Maria viu homens cruéis, quais lobos
vorazes a rasgarem a carne sacrossanta do Filho amado. Ela assistiu o
cravar lento de agudos cravos, o martírio penoso, vestes arrancadas
brutalmente, uma cruz violentamente lançada na abertura para ela feita
no solo fazendo estremecer em novos padecimentos o corpo de seu Filho.
Acompanhou o furor da dor mais intensa a consumir este Filho amado por
entre as vozes díssones de ultrajes e desprezos. Fortaleza admirável
daquela Senhora! Não fora especial graça divina e ela teria caído
fulminada por tanta amargura! Hora suprema do martírio, da imolação
mais dolorosa! Cumpre, porém, se lembre que foram os pecados que
ocasionaram tanto sofrimento para Mãe e Filho. É preciso, realmente,
abominar o pecado, reparar as faltas passadas e firmar sempre o bom
propósito de uma vida santa longe das ciladas do Inimigo infernal.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos. |
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Última Alteração: 13:40:00 | |||
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