MATERNIDADE ESPIRITUAL DE MARIA

Lá no Calvário a  vida nova ia jorrar da Cabeça do Corpo Místico  e ali está a mãe da humanidade regenerada, porque Mãe do Salvador, Corredentora da raça redimida. Num testamento de requintado amor, revelando sua vontade derradeira, Jesus quis proclamar publicamente, solenemente esta verdade alicerçada em duas colunas auríferas: a maternidade divina e a corredenção. Cristo  abaixou seus olhos sobre os que estavam diante da Cruz os quais Ele cingia como num abraço amigo. Contemplou sua mãe e o amigo fiel. A ternura por aqueles dois seres e por milhares de outros que Ele evocou através de um símbolo vivo, iria obrigá-lo a falar não obstante tantos sofrimentos. Dulcíssimas palavras foram  recolhidas com sumo carinho pelo único Apóstolo ali presente. Pairaram elas para grandeza e felicidade da humanidade redimida: “Mulher, eis aí o teu filho ... Filho, eis aí a tua mãe”! Toda a Igreja, desde então, através de uma percepção universal e nos mais belos escritos que consagraram a pena de doutores famosos, compreendeu que João era aí um representante. Maria recebeu de seu divino Filho o gênero humano em tutela. Os homens ganharam Maria como  mãe espiritual. Herança sublime legada pelo Salvador! Num derradeiro adeus, impelido por uma dileção imensa, Jesus proclamou uma verdade, honra e glória de seus seguidores. “Eis aí a tua mãe”! Mãe! Quem não pensa na mãe em todo puro amor? Quem não se abriga junto da mãe em todo momento de desamparo e dor? Mãe é luz que aos astros rivaliza. É o bem, a previdência, a mais bela obra de Deus. É esperança, âncora, bússola, refúgio seguro, guarida protetora. É amor que ninguém esquece. Seu coração é um abismo no fundo do qual só existem meiguice, brandura, doçura e afeto. Nenhuma cornucópia, por maiores tesouros que derrame, é mais rica que a mão materna que abençoa. Sol que ilumina o lar, anjo celeste que enxuga todas as lágrimas, estrela que aponta os caminhos do bem e da virtude, a mãe é o maior tesouro que alguém neste vale de lágrimas possui. Onde quer que o filho esteja a mãe o acompanha com o pensamento. Cena comovente, narrada pela Bíblia e que bem retrata a mãe, é a referente a Sísara, rei cananeu que partira para a guerra, mas foi derrotado por Barac e Débora e assassinado por Jael. Sua mãe, porém, o aguardava vitorioso e jubiloso e diz o texto sagrado: “À janela, a mãe de Sísara se debruça e vigia, através da grade: “Por que  tanto tarda o seu carro a vir? Por que são lentos os seus cavalos” (Juízes, 5, 28), indaga ela ansiosa por rever o filho amado. Mal sabia ela que nunca mais o veria! Na lenda dos gregos, Níobe, filha de Tântalo e esposa de Anfião  que muito se gloriava de seus sete filhos e de suas sete filhas foi a mãe duramente castigada. Latona  que só possuía dois filhos, não agüentou a ufania de Níobe e se julgou injuriada. Apolo e Diana então para vingarem a sua mãe mataram a frechadas todos os filhos de Níobe. Esta chora, se petrifica de dor. Do semblante lhe fugiu a vida e na face se lhe imobilizaram os olhos. Nas veias lhe parou o sangue e ela se transformou em pedra nos desertos da Lídia no monte Lípilos. Segundo os helênicos ela se fez mármore que se desfaz em lágrimas, personificando a dor materna. Em Roma, ternura e carinho se expande na atitude poética de Cornélia que ao receber uma visita sai para, conforme o costume romano, buscar as jóias a serem mostradas e entra abraçada a seus filhos que lhe eram o mais precioso e verdadeiro tesouro. Ainda na Roma antiga, Coriolano, que havia traído sua pátria, marcha com os Volscos contra a cidade. Debalde o Senado e o povo, aterrorizados, lhe enviaram sucessivamente legados para o aplacar. Ele estava disposto a saquear a famosa urbe. Não resistiu, porém, às lágrimas e súplicas de sua mãe Vetúria e poupa a cidade. Grande o poder que têm as mães sobre os corações dos filhos. Além disto, as mães amam mais os filhos que a própria vida. A  mãe do imperador Nero, homem terrível, que não possuía nenhuma virtude para  lhe contrabalançar os vícios mais hediondos, até a mãe de Nero, tendo ouvido de um oráculo que, se o filho chegasse a imperador, ele haveria de a assassinar, respondeu: occidat, dummodo imperet - mate-me, contando que seja imperador. Entretanto, nenhuma outra mãe através da História se igualaria ou se igualará a Maria não apenas por ter sido ela a co-redentora da humanidade,  suportando os mais horrípilos sofrimentos, como ainda porque, sendo a Mãe de Deus, Soberana do universo, tem transfigurado o coração de milhares de pecadores, abrindo-lhes as portas do Reino do Céu. Ela jamais desamparou  os filhos que a Ela recorrem. Modelo de todas as mães nela a maternidade atingiu as raias da suprema grandeza.

* Professor no Seminário de Mariana, durante 40 anos.
 
Última Alteração: 14:39:00
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Local:Mariana (MG)

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