Passarinhos fora do ninho.
A ninhada de passarinhos mal tinha saído dos ovos. Era ainda cedo para abandonar a presença, o calor e a proteção da mãe. Os pássaros nem sequer tinham aprendido a ciscar. E, muito menos, a bater as minúsculas asas e alçar os céus. Contudo, foram embora e nunca mais voltaram.
Esta é a figura de linguagem que o profeta Isaías usa para se referir aos moabitas, que foram obrigados a deixar o próprio país por causa da guerra: “Como passarinhos que foram espantados dos seus ninhos, assim os moabitas andam de um lado para o outro nas margens do rio Arnom” (Is 16.2).
Na verdade, toda mulher e todo homem são como passarinhos fora do ninho. É uma tristeza! Estamos distantes do lar onde nascemos. Por causa disso, estamos também confusos, perdidos, sem endereço certo, agitados, vagando por todos os lados, correndo atrás do vento. Não sabemos voltar, não conseguimos voltar e, às vezes, aturdidos e enganados, nem sequer queremos voltar. É uma situação complicada!
O ninho que deixamos, muito longe de nós e há muito tempo, está lá em cima. Em vez de voarmos nas alturas, descemos para a terra. Por isso, como a corça deseja e procura ansiosamente um riacho para matar a sede, assim também a nossa alma tem sede de Deus e quer voltar ao ninho. Enquanto isso não acontece, estranhas e frequentes ondas de tristeza se abatem contra nós (Sl 42.1-11).
Fora do ninho, temos uma espécie de saudade contínua de Deus, de sede contínua, de insatisfação contínua, de insônia contínua, de vazio contínuo e vivemos em um corre-corre contínuo. A nossa sede interior de Deus é como a de uma terra cansada, seca e sem água há muito tempo. Queremos voltar ao ninho e nos encontrar com Deus (Sl 63.1-2).
Agostinho, africano que se converteu em Milão, na Itália, aos 33 anos, é um dos mais conhecidos passarinhos fora do ninho. A certa altura, ele conta que percebeu a voz de Deus atrás dele: “Uma voz que me chamou a voltar, mas [que] mal pude escutá-la por causa do ruído e da falta de paz”. Depois de finalmente ouvir a voz de Deus, Agostinho escreve: “Agora, aqui estou eu! Volto à sua fonte, ardendo de calor e sem respiração. Ninguém nem coisa alguma pode me proibir de voltar. Vou beber dessa fonte e por ela encontrar minha vida autêntica”. De volta ao ninho, o bispo de Hipona lamenta o tempo perdido fora dele e confessa: “Tarde te amei, ó tão antiga e tão nova beleza! Tarde demais eu te amei! Eis que estavas dentro em mim, e eu do lado de fora te procurava! Comigo estavas, mas eu não estava contigo […]. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste, e a tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, por ti suspirei”. A mais conhecida confissão de Agostinho a respeito da necessidade interior de Deus é esta: “Porque nos fizeste, Senhor, para ti, nosso coração anda sempre inquieto enquanto não se tranquiliza e descansa em ti!”.
O cardeal inglês John Henry Newman (1801–1890) exemplifica aqueles que querem o auxílio de Deus para voltar ao ninho: “Conduze-me, doce voz, pela escuridão que me cerca, sê tu a me conduzir! A noite é escura e estou longe de casa [ou do ninho], sê tu a me conduzir!”.
Em muitos casos de depressão precisamos procurar um profissional de saúde. Em outros, precisamos apenas voltar para o ninho! Paz e bem
Comentários